Surpresas pelo Caminho do Sol em 2 dias de pedalada de Itu a Mombuca
por Sussumo - 18/10/2016
Nesta segunda matéria da série, continuamos nossa peregrinação de bicicleta pelo Caminho do Sol. O percurso de 241 quilômetros pelo interior de São Paulo foi criado pelo empresário José Palma, depois que ele percorreu o mundialmente conhecido Caminho de Santiago de Compostela na Espanha.
O Caminho do Sol seria uma espécie de "versão brasileira", e ficou conhecido como um preparatório para quem pretende fazer o Caminho de Santiago, que no seu mais conhecido trajeto, o Caminho Francês, ultrapassa os 800 quilômetros.
Haras do Mosteiro - o delicioso café da manhã é o combustível para retomar nossa jornada
Ainda sob o efeito dos 62 kms do dia anterior, após um delicioso café da manhã no Haras do Mosteiro, iniciamos nossa pedalada do dia por volta das 10 horas. O primeiro trecho nos leva até a Chácara San Marino, passando pela cidade de Salto e pelo Bar do Pedro e da Fátima.
Placa indicativa do Caminho do Sol
Apesar da poeira, as estradas de terra descortinam imagens de rara beleza durante grande parte deste trajeto. Nem por isso amenizam a dureza e o esforço para vencer os longos trechos de subida.
Haras do Mosteiro até Salto
O contraste do vermelho da terra com o verde das plantações no Caminho do Sol
A aridez do caminho, a poeira grudada na pele e o cansaço físico pelos longos trechos de subida, não impedem nossos olhos de admirar o verde dos parreirais, das plantações de milho, dos canaviais que margeiam a estrada de terra, e a exaustão só não é maior porque o céu não é azul pela providência das nuvens que felizmente amenizam o calor.
Salto, um importante ponto de passagem para uma visita a oficina e farmácia
Logo avistamos as primeiras casas da cidade de Salto. É hora de passar numa farmácia para tratar dos arranhões e aproveitar para trocar o pneu da bike, afinal uma queda a mais e a viagem poderia ficar comprometida.
Bicicletaria em Salto, freios e pneus revisados são essenciais para a segurança
Em busca da sombra das árvores, passamos a ver ao longo do caminho muitas goiabeiras carregadas da fruta, infelizmente a grande maioria comprometida com pequenas larvas que se alimentam da polpa. Mas como das árvores podemos aproveitar as frutas e a sombra, aproveitamos para descansar.
Parque do bosque em frente ao Bar do Pedro
Finalmente o Bar do Pedro, é hora de uma parada para um lanche rápido, reabastecimento de nosso estoque de água e mais um carimbo no passaporte. O Pedro nos faz companhia, contando histórias dos peregrinos, e confidencia que este ponto é crítico para muitos. Segundo ele é comum pedidos para seguir no carro de apoio até Elias Fausto, e até alguns retornos por desistência em virtude de bolhas e inchaço nos pés/pernas dos caminhantes e caimbra nos ciclistas.
Estrada entre Salto e Elias Fausto
Neste ponto os caminhantes estão em seu 4º. dia e os ciclistas no 2º. dia, tendo percorrido em torno de 70 kms.
A poucos quilômetros de Elias Fausto
Mais um pouco de sol, mais calor, mais poeira e seguimos assim até a pequena cidade de Elias Fausto, destino final do 2º. dia de peregrinação. Uma parada na praça e logo fazemos novos amigos. Seu Felipe, aposentado e um cantor que promete muito sucesso – Antonio Carlos, cujo nome artístico é “Peba” nos brinda com um “show” particular na pracinha da igreja matriz.
Praça da Igreja Matriz em Elias Fausto
Aproveitamos para uma consulta no Hospital Municipal de Elias Fausto, a recomendação do médico para os ferimentos é uma limpeza e curativo.
Famintos, seguimos para a pousada e somos surpreendidos com a notícia de que a Pousada não fornece jantar. A solução foi dada pelo Rogério, dono da pousada que gentilmente ligou para um disk marmitex e pudemos fazer uma refeição mais ou menos decente.
Igreja Matriz de Elias Fausto
Mais tarde, um passeio para conhecer as atrações noturnas da cidade, e descobrimos que uma sorveteria é o único local além de alguns bares e um culto religioso com sinal de vida àquela hora.
Estrada no contorno da represa da Fazenda Milhã
Este trecho no contorno da represa da Fazenda Milhã, mostrou-se mais tarde um dos piores e o mais assustador, já que em alguns momentos parecíamos estar andando em círculos, dando a impressão de estarmos perdidos. Além de as trilhas estarem praticamente intransitáveis de bike, em alguns pontos. Ao chegarmos encontramos a Fazenda vazia, seguimos então sem parar em direção a Capivari.
Casa de Assis Chateubriand
Além da pracinha junto a Igreja Matriz, já fora do centro urbano, outra atração turística de Elias Fausto, embora em estado de completo abandono é a casa de Assis Chateubriand, polêmico magnata da comunicação no Brasil.
Elias Fausto a Mombuca, 70 kms no terceiro dia de peregrinação
Após mais um decepcionante café da manhã em Elias Fausto, seguimos para mais uma jornada rumo a Mombuca, passando por Capivari.
Fazenda Milhã
Aliviados atravessamos a Fazenda Milhã. No trecho seguinte admiramos a beleza do verde da cana contrastando com o vermelho da terra, um caminho muito amigável que logo nos transportou até a Rodovia do Açúcar. Atravessamos a pista da Rodovia do Açúcar e seguimos em direção a Capivari em meio aos canaviais.
Chegando à metade do Caminho
Extensos canaviais emolduram um caminho plano em sua maior parte, alternando com subidas desgastantes especialmente quando o sol aparece. Algumas paradas para saborear um caldo de cana direto da fonte. E de repente um alento ao cansaço – uma placa, um aviso, uma mensagem: chegamos à metade do caminho – metade da missão está cumprida.
Placa informando que chegamos à metade do Caminho
Depois de Salto, Capivari é a maior cidade pela qual passamos. Guardadas as devidas proporções, tudo lembra uma grande metrópole, o trânsito, o comércio, o movimento das pessoas e dos carros, e inclusive a preocupação da população com a segurança: “cuidado com os ladrões de bikes” alerta-nos um morador local. No estacionamento do restaurante “Mamma Mia” observamos câmeras de segurança filmando o local.
Capivari, segunda maior cidade na rota do Caminho do Sol
Almoço, um passeio pela cidade, uma parada para um café e seguimos em frente rumo a Mombuca. Mas uma surpresa: o pneu de uma das bikes estava furada, aproveitamos a sombra das árvores da praça de Capivari para trocar a câmara de ar. Aproveitamos para comprar bananas e água. Pneu consertado, fomos em busca de uma bicicletaria para comprar uma camara reserva, pois ainda tínhamos um longo caminho pela frente.
Uma parada para conserto do pneu furado
Na saída de Salto deveríamos passar pelo “Bar do Jarbas” para carimbar o passaporte, mas não vimos a seta indicativa e passamos batido.
Estrada de asfalto até o "Bar do Jarbas"
Em meio a aridez do trecho seguinte, onde em alguns momentos achamos que tivéssemos errado o caminho não fosse pelas setas amarelas que iam surgindo, foi uma surpresa agradável quando adentramos uma bela Fazenda, um verdadeiro oásis no meio da Caminho.
No meio do Caminho, uma linda Fazenda
Além da beleza do lugar, a recepção calorosa de Dona Maria, oferecendo água e refrigerante geladinho, além de uma revigorante ducha seguido de um mergulho na piscina. E segundo nossa anfitriã, nada poderia ser cobrado por ordem das proprietárias que utilizam a Fazenda para encontros de família, e sempre que possível acolhendo os peregrinos por um desejo do falecido patriarca.
A pequena e exótica cidade de Mombuca
Não fosse o Caminho do Sol, provavelmente continuaríamos desconhecendo a existência da bela e pequena Mombuca. A cidade possui pouco mais de 3 mil habitantes, um povo simpático e acolhedor, mas deve ser atravessada com muita atenção pois num piscar de olhos você já poderá estar fora de suas fronteiras.
Igreja Matriz de Mombuca
A pousada em Mombuca é bastante simples, com quarto coletivo para 20 pessoas ou mais dependendo da temporada, serve as refeições na casa da proprietária, uma comida simples mas saborosa e nutritiva.
Na 3ª. e última matéria desta série a chegada na Casa de Santiago, um momento marcante e emocionante encerrada com o ritual do peregrino um pequeno momento de “glória” reservado aos poucos que se dispõe a uma jornada de peregrinação pelo Caminho do Sol. Até lá!
ROBERTO SUSSUMO É FÍSICO POR FORMAÇÃO, ADMINISTRADOR POR PROFISSÃO, CICLISTA, FOTÓGRAFO E VIAJANTE POR PAIXÃO. GOSTA DE VIAJAR POR SUA CONTA, PLANEJAR, LER, PESQUISAR, VISITAR A HISTÓRIA, VER O MUNDO COMO É E COMPARAR COM O QUE IMAGINA SER.